A Associação Comercial e Industrial de Anápolis – Acia –, entidade que há mais de 50 anos luta em diferentes frentes pelo desenvolvimento do país, está apreensiva com os fatos políticos recentes e as sombrias perspectivas que se avizinham. O Brasil vive uma crise configurada por 30 milhões de famintos, mas o Governo Federal dispõe de apenas 10% dos recursos para os investimentos. Os 90% restantes estão comprometidos com as mais variadas vinculações constitucionais.

Há no país uma falência indiscutível da Previdência Social, da Saúde, da Educação, do Transporte e um déficit de 10 milhões de moradias. Nenhum governante, nestas condições, pode contornar esta crise. A maioria dos constituintes de 88 mantiveram o Brasil atrelado a cartórios econômicos e sustentaram desequilíbrios fiscais incompreensíveis. É bem ilustrativo o corporativismo que domina os portos. As estatais, ainda existentes, verdadeiros sorvedouros de recursos públicos, são igualmente um problema até agora insolúvel.

A revisão constitucional, esperança dos brasileiros, transformou-se numa vergonha nacional. Caberia aos revisores prepararem o país para a retomada do desenvolvimento, mas os interesses políticos imediatistas a inviabilizaram. A esquerda conspirou contra a revisão, achando que a direita poderia “engressar” um possível governo Lula, através da reforma. Mesmo os partidos não quiseram arriscar perda de votos em questões que os colocariam contra o eleitorado.

Quem assumiria o desgaste em questões fundamentais como o fim da estabilidade do funcionalismo público? Ou com a extinção da aposentadoria por tempo de serviço? E quem iria conversar com prefeitos e governadores depois de apoiar a redistribuição dos recursos públicos entre União, estados e municípios? Por isto, os gazeteiros do Congresso Nacional prefeririam pensar na eleição e enterraram a revisão constitucional.

Em meio a este ambiente pessimista, a Acia ainda vê com preocupação a intenção do governo em conter o consumo pelo velho mecanismo de alta de juros. Ora, num país marcado pela fome e pela miséria, chega a ser irresponsável falar em contenção de consumo. A incongruência deste programa é tão grande que ao mesmo tempo em que se fala na necessidade da elevação da receita tributária e da geração de empregos, procuram-se meios para baixar o consumo, ou seja, a produção nacional, posições inteiramente antagônicas e que certamente contribuirão ainda mais para aumentar a miséria e o desemprego no país.

O Brasil precisa, sim, é reencontrar o caminho de seu desenvolvimento e para isto necessita viabilizar recursos e ter estabilidade política para reativar seu grande parque industrial, um dos maiores do mundo e que se acha completamente ocioso pela sua total descapitalização em face da ciranda financeira que domina totalmente nosso país. Só através do trabalho e da maior utilização da capacidade de produção deste parque industrial, haveremos de combater definitivamente esta inflação devastadora.

Ter receio de provocar o desabastecimento do país através da melhoria de distribuição de renda e consequentemente do aumento de consumo, elevando-se ainda mais a inflação brasileira, foi sempre uma suposição neste país. Mesmo que isto viesse a ocorrer, transitoriamente, em algum setor, o Brasil atual é país de economia aberta e que poderá suplementar suas necessidades de consumo no mercado externo.

O que não poderemos esperar mais é transformar em riqueza, para o povo, todo o potencial brasileiro da agricultura, da indústria e da mineração. A Acia apela para que todos penem mais no Brasil, e não apenas nos interesses individuais. Quem não tiver espírito público que não se candidate. Agora, mais do que nunca, precisamos de verdadeiros brasileiros para reerguer esta nação. É hora da revolução pelo voto e não podemos mais nos omitir num momento tão crucial para nosso país.

Anápolis/Junho de 1994
Gilson Teixeira do Amaral Brito
Industrial e presidente da Acia
Apoio da Federação das Indústrias do Estado de Goiás.

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Referência:
AMARAL, Gilson Teixeira do. A revolução pelo voto. Goiás Industrial, Goiânia, Ascom, Maio/Junho, 1994.