A cerveja vem de tempos, há quem imagine que é uma bebida nova ou que teve início recentemente. Qual sua opinião?
- 1887-09-04
- 1887-09-04
História da cerveja
História do Brasil
Há bastante divergência sobre quando realmente surgiu a cerveja. A arte da fermentação de cereais, trigo e cevada vem desde o Egito Antigo com registros no Código de Hamurabi em 1770 a.C. sendo que nesse período havia muito misticismo em relação a cerveja, e nos processos de fermentação misturavam ervas e outras especiarias que diferenciava, criando diferentes tipos de bebida. Os egípcios consideravam a bebida como um alimento e era usado para curar certas doenças. Alguns historiadores escrevem que a cerveja é oriunda da Mesopotâmia, com os Sumérios, uma bebida obtida de cereais. A história da cerveja como conhecemos hoje teve início após a Revolução Industrial na Inglaterra no século XVIII. Mas a arte de fermentar cereais com malte e lúpulo (planta trepadeira usada na fabricação da cerveja) vem desde a antiguidade. A base principal para produção de cerveja é malte de cevada ou trigo, lúpulo e água sendo que o lúpulo é uma flor que dá um gosto amargo e o malte produz o sabor adocicado com ação do fermento (levedura). Essa receita básica é oriunda da Europa que até hoje é utilizada. O que pode mudar é a mistura de outros ingredientes, pois há várias formas de preparo, tempo de fermentação que dará um resultado final diferenciado.
Há registros da fabricação de cervejas nos monastérios da Idade Média, onde monges além de suas atividades comuns dedicavam-se a produção da bebida. Na Alemanha houve a baixa de um Decreto que obrigava os cervejeiros a utilizar somente os ingredientes citados no documento, onde até hoje alguns produtores de cerveja, seja ela artesanal ou industrializada utilizam somente ingredientes que a lei de 23 de Abril de 1516, que foi promulgada pelo duque Guilherme IV da Baviera permitia. Em um longo período a cerveja foi considerada bebida de pobre enquanto o vinho, a bebida dos nobres.
A história da cerveja no Brasil começa quando em 1640, um influente conde holandês chamado João Maurício de Nassau-Siegen, mais conhecido como Conde de Nassau, nascido em Dillenburg, no Sacro Império Romano-Germânico traz consigo em sua mudança para a cidade de Recife, no estado do Pernambuco o cervejeiro Dirck Dicx com uma planta de cervejaria, equipamentos para preparo da bebida e matérias-primas trazidas diretamente do país europeu montando assim uma cervejaria em sua própria casa e a batizou com de “La Fontaine”. Em 1808 com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, houve uma ampliação da venda de cerveja, pois historiadores afirmam que D. João consumia a bebida. Nesse mesmo período o rei revogou o alvará da rainha D. Maria I que proibia a construção de fábricas em território brasileiro obrigando o Brasil a consumir apenas produtos portugueses. Com a abertura dos portos as nações amigas, trouxe benefício para a Inglaterra que até 1870 monopolizou o mercado de cervejas importadas.
Havia muitas propagandas da venda de cerveja em jornais, mas não de fabricação. Nesse período eram vendidas em barris e muitas vezes, os próprios comerciantes engarrafavam a bebida rotulando as garrafas identificando a marca e origem da cerveja. Com o aumento do consumo, um jornal da época, meados de 1836 foi editado um anúncio no “Jornal do Commercio do Rio de Janeiro” a primeira fábrica de cervejas do Brasil intitulado Imperial Fabrica de Cerveja Nacional. Com a vinda de imigrantes para o Brasil a fabricação de cervejas artesanais para consumo próprio foi surgindo e com o aumento da procura da bebida que era uma novidade em solo brasileiro, estas famílias começaram a produzir um volume maior do líquido e vender no comércio local mesmo sendo feitas por um processo simples e sem muitos investimentos. Os imigrantes alemães contribuíram muito para a criação de fábricas de cerveja. A cerveja alemã tinha uma grande diferença da cerveja inglesa. A alemã era límpida, clara e conquistava o paladar dos apreciadores da bebida e vinham em garrafas, enquanto a inglesa era o oposto e chegava ao Brasil em barris. Na segunda metade do século XIX, próximo da abolição da escravatura em 1888, surgiram duas grandes fábricas de cerveja, sendo uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. O suíço Joseph Villiger fundou a “Manufatura de Cerveja Brahma Villiger & Companhia”, (que mais tarde chamaria Companhia Cervejaria Brahma, e depois seria sucedida pela AmBev) fundada na então capital do Brasil da época. No mesmo período, em São Paulo surge a Companhia Antarctica Paulista que começou fabricando gelo e embutidos suínos tendo vários acionistas que colaboraram com a importação de máquinas, mão-de-obra alemã e muito dinheiro para alavancar uma produção em larga escala. A Antarctica chegou a ter uma filial na cidade de Joinville-SC chegando a ser considerada a melhor cerveja nacional. Villiger vendeu sua cervejaria à Georg Maschke sendo que este investiu e em 1904 chegando a produzir seis milhões de litros por ano de cerveja. A indústria da cerveja favoreceu o surgimento de um novo seguimento fabril: as fábricas de vidro. Era necessária a produção de garrafa para que então pudesse engarrafar o líquido produzido e a indústria do vidro passou atender a demanda da paulista Antarctica. Todo e qualquer artigo de vidro era importado da Europa e quando a necessidade de garrafas surgiu, grandes investidores apostaram no negócio transparente.
Inúmeras marcas de cerveja surgiram no início do século XX com a influência europeia que estava presente principalmente no sul e sudeste. As cervejarias começavam como negócios de família, algo bem tradicional. Muitos após acumulo de capital conseguiram industrializar a produção conseguindo resultados mais satisfatórios. Alguns impasses havia, pois no início os ingredientes para fabricação da cerveja eram importados e às vezes o custo era alto. Brahma e Antarctica dominaram o mercado industrial de cervejas. A Brahma investiu em publicidade, modernização de maquinários, rótulos diferenciados e até garrafas personalizadas. Lançou a primeira cerveja light que tinha uma baixa fermentação e teor alcoólico menor. Também popularizou o famoso chopp é inclusive uma adaptação brasileira de um termo alemão. A palavra chopp vem do alemão “Schoppen” que nada mais é do que uma unidade de medida, como é o “pint” na Inglaterra. A medida varia um pouco em cada região do país, mas pode ser padronizado como meio litro. Geralmente ela é servida a partir de barris em uma caneca de 300 ml. As duas gigantes do Brasil, pioneiras da cerveja industrializada após meio século de avanços que disputavam o mercado resolveram se unir. Então a Companhia Antarctica Paulista e a Companhia Cervejaria Brahma anunciaram a criação da Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV), resultado da fusão entre ambas. Em Goiás não há registros detalhados sobre a primeira fábrica da Cerveja Goyana fundada pelos “Irmãos Brom & Companhia” no dia 4 de setembro de 1887 às margens do Rio Vermelho, posteriormente assumida por Domingos Gomes de Almeida. A produção nesta fábrica era inspirada nas cervejas inglesas e alemãs que eram importadas e chegavam ao território da Capitania de Goyaz. A cerveja produzida foi batizada com o nome Cerveja Goyana. Em 1967 a marca de cerveja Skol da empresa dinamarquesa Carlsberg, chega ao Brasil após ser autorizada licença para comercialização sendo pioneira da cerveja em lata. Com a invenção do novo recipiente, agora de alumínio, marcas de refrigerantes como Pepsi e a Coca-Cola substituíram as latas de aço que usavam até então por latas de alumínio leves e mais baratas. Hoje esta bebida não perdeu o gosto no paladar das pessoas. Inovações e investimentos estão surgindo com mais rapidez e dinamizando o mercado cervejeiro. Muitos investidores estão apostando na produção de cerveja artesanal que tem algumas características parecidas com as cervejas fabricadas pelos imigrantes. Misturas, experimentos e estudos que viabilizam novas marcas e conquista de mercado.
Texto: Valter Lopes - Historiador
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FONTES:
200 anos de indústria no Brasil: de 1808 ao século XXI: 70 anos da Confederação Nacional da Indústria / [organização Julio Heilbron, Elmer Corrêa Barbosa; versão em inglês Geoffrey Lloyd Gilbert. - Rio de Janeiro: EMC, 2008.
https://www.hominilupulo.com.br/cultura/historia-da-cerveja/
https://pt.wikibooks.org/wiki/Cerveja/Hist%C3%B3ria
http://www.brejas.com.br/historia-cerveja.shtml
http://www.cervejasdomundo.com/Brasil4.htm
http://www.saintbier.com/historia-cerveja
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cerveja