O café teve um papel importante nos avanços tecnológicos no Brasil no final do século XIX. Foi apelidado de "ouro negro".
- 1892-02-02
- 1892-02-02
A indústria do café
História do Brasil
No Brasil as primeiras mudas de café trazidas da Guiana Francesa pelo sargento-mor Francisco de Melo Palheta a pedido do governador do Estado do Grão-Pará (atual Pará) dando início ao plantio no Estado do Pará e posteriormente espalharam-se pelo interior de São Paulo e Rio de Janeiro. Havia um grande consumo do produto no exterior favorecendo a exportação. A grande alavancada na produção do café foi à queda nas exportações de algodão, açúcar e cacau. No final do século XIX, meados de 1890 iniciou-se a industrialização, pois muitos cafeicultores que investiam seu dinheiro no exterior passaram aplicar seus lucros nas indústrias brasileiras, as quais começavam a despontar, principalmente nos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, contando com a chegada de imigrantes europeus, principalmente italianos, para trabalhar nas fazendas aumentando a mão-de-obra livre nos cafezais. Houve destaque na produção do café no Vale do Paraíba, mesorregião do Sul Fluminense, litoral norte de São Paulo, considerada uma região ideal para o cultivo.
O ápice do café foi no início do Brasil República após o encilhamento (crise financeira e institucional entre 1889 e 1894) quando estava ocorrendo à transição política de Brasil Imperial para República. Veteranos da Guerra do Paraguai, classe média urbana e inclusive os cafeicultores paulistas insatisfeitos com as regalias da corte de D. Pedro II, o compadrio e privilégios da elite. Tudo isso culminou articulação para queda do Império. Mas, por quê? Após a abolição da escravatura em 1888 que pôs fim ao tráfico negreiro, os fazendeiros escravocratas não mais eram representados pela República Velha sendo que o café era, de longe, o principal produto de exportação, além de apresentar-se como o maior empregador e dinamizador da economia interna.
A preocupação dos barões do café era como iriam obter capital para investir em um porto para o café, e a solução veio com o chamado “pacote” industrialista do então ministro da fazenda Ruy Barbosa. Em 1892 foi inaugurada no Rio de Janeiro a Companhia Docas de Santos, com sede no Rio de Janeiro, colaborando com os ciclos de crescimento econômico do país movimentando açúcar, café, adubo, laranja, algodão, soja e carvão.
Desde 1830 a Província de São Paulo liderava a produção de café colocando o país como maior produtor mundial. Em 1886, o Ministério de Viação e Obras Públicas abriu uma concorrência para empresas que tinha interesse em construir um porto em Santos e venceu a empresa dos brasileiros Cândido Gaffréem, Eduardo Palassin Guinle, José Pinto de Oliveira, Alfredo Camillo Valdetaro, Benedicto Antônio da Silva e Francisco Ribeiro, Barros & Braga. Após análises das propostas e aprovação, a construção foi homologada pela Princesa Isabel, tendo em uma das cláusulas que seria explorado pelos construtores durante 90 anos. Em 2 de fevereiro de 1892 o navio Nasmith atracou no Cais de Santos, na região do Valongo, inaugurando o primeiro porto moderno do Brasil. O progresso caminhava e a Província de São Paulo foi beneficiada com o Porto de Santos. Todo capital acumulado com a exportação do café foi investido em maquinários, mão-de-obra e para as indústrias que iam despontando na província. Um complexo fabril foi surgindo através dos investimentos dos empresários, não apenas voltado para o café, também metalúrgicas, tecelagens, fábricas de sabão, serraria, carpintaria e outros. O governo, para acompanhar o progresso com a implantação do porto para escoar o café para o mundo, precisava investir em infraestrutura, saneamento e reurbanização, pois o Brasil precisava urgente de uma porta de entrada para imigrantes, tecnologia e capital.
Sem dúvidas, automaticamente o Brasil ganhou uma nova dinâmica com a modernização nos transportes como a construção de portos e ferrovias, trabalho assalariado, tudo de acordo com uma mentalidade capitalista e empresarial dando um notório poder político aos cafeicultores no novo período que se iniciava: a República Velha. O café é referência mundial! Ninguém previu a popularidade de grãos tão simples originários da África. Influenciou na política, na industrialização e até hoje é considerada uma bebida importante que não pode faltar na mesa.
Texto: Valter Lopes - Historiador
Leia mais! História da Cerveja
FONTES:
Bueno, Eduardo. Produto nacional: uma história da indústria no Brasil / Eduardo Bueno. – Brasília: CNI, 2008. 240 p. : il
200 anos de indústria no Brasil: de 1808 ao século XXI: 70 anos da Confederação Nacional da Indústria / [organização Julio Heilbron, Elmer Corrêa Barbosa; versão em inglês Geoffrey Lloyd Gilbert. - Rio de Janeiro: EMC, 2008.
https://www.todamateria.com.br/ciclo-do-cafe/