Avança o nível de instrução da população economicamente ativa, mas faltam trabalhadores habilitados para sustentar planos de crescimento da indústria. Saiba mais:
- 2007-10-11
- 2007-10-11
O desafio da qualificação
História de Goiás
A economia brasileira, Goiás incluído, enfrenta paradoxo característico de momentos de definição, quando as soluções que deverão ser engendradas servirão para conformar o modelo e as possibilidades futuras de crescimento. Neste momento, embora o nível de instrução das pessoas aptas a trabalhar, assim como do pessoal ocupado, tenha experimentado avanços notórios na última década, a indústria queixa-se da falta de mão-de-obra qualificada para executar tarefas que exigem grau mais específico de sofisticação e mesmo para preencher vagas que vêm surgindo em setores tradicionais, como na construção civil, decorrentes do aquecimento na economia em geral.
Especialistas apontam o risco de um “apagão da mão-de-obra”, referência óbvia à crise de falta de energia que provocou desaquecimento econômico e retração de investimentos nos primeiros anos da década em curso. Em artigos e entrevistas, o professor da Universidade de São Paulo (USP) e consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Pastore, tem indicado que a indústria deverá exigir um exército de 2 milhões de novos profissionais até 2010 devidamente preparado para exercer funções técnicas e enfrentar o desafio de incrementar os indicadores de competitividade e manter a economia em rota de crescimento.
A tarefa de formar e qualificar mão-de-obra vem exigindo grande esforço do Senai e de outros órgãos ligados ao setor, com a contribuição das redes pública e privada de ensino, destaca Pastore. Mas para evitar o temido “apagão” será preciso algo a mais, acrescentou o consultor do CNI, já que o País deixou a educação de lado no longo período em que a economia apenas “andou de lado”, na gíria do mercado. “Agora que o País voltou a crescer, a demanda por profissionais também cresceu fortemente, mas não há como atendê-la. Isso já aconteceu antes: toda vez que crescemos 4,5% ou 5% ao ano, falta mão-de-obra”, afirmou em entrevista concedida à Agência O Globo no final de outubro.
Na mesma linha, o reitor da Universidade Federal de Goiás, professor Edward Madureira Brasil, também acredita que, se a economia do Brasil crescer significativamente nos próximos anos a dificuldade de oferta de mão-de-obra qualificada pode ser grave. Segundo ele, existem problemas na formação dos trabalhadores, tanto nos cursos profissionais quanto nos custos técnico. “É preciso otimizar os investimentos, além de buscar esforço concentrado do governo, das universidades, do Sistema S e dos Centros Federai de Educação Tecnológica para que esse impasse seja solucionado”, destaca o reitor.
O Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece diretrizes, objetivos e metas para todos os níveis de ensino, conforme destaca o reitor da UFG, prevê que 30% da população com idade entre 18 e 24 anos esteja na universidade. No entanto, no Brasil, apenas 11% desses jovens estão cursando o ensino superior. A partir de dados como esse, ele lembra que a evasão escolar continua preocupando o setor comercial. “Muitos abandonam a escola ainda na base da formação e o problema vai se acentuando até chegarmos a um verdadeiro gargalo no ensino médio” analisa Edward.
Em Goiás, para tentar atender à demanda por mão-de-obra qualificada, o reitor afirma que a UFG tem procurado ouvir a comunidade na hora de definir os cursos que serão implantados em determinada região. Neste vestibular, com data ainda para novembro, a universidade oferece cinco novos cursos: Engenharia de Minas, Engenharia Civil e Engenharia de Produção em Catalão; e Enfermagem e Ciências da Computação, em Jataí. No total, são 240 vagas, 40 para cada novo curso. “Como existem várias indústrias de mineração na região de Catalão, a procura pelo curso de Engenharia de Minas já era grande. Da mesma forma, o curso de Engenharia de Produção vem atender a necessidades das diferentes montadoras que investiram no Estado.”
Enquete realizada pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) revela que a falta de qualificação representa um problema real para praticamente dois terços das indústrias entrevistadas, qualquer que seja a sua área de atuação ou seu porte. Segundo a Sondagem Industrial Especial - Qualificação da Mão-de-Obra na Indústria, divulgada em outubro, “as grandes empresas são as que mais sofrem com a falta de mão-de-obra qualificada, o que não poderia ser diferente devido ao processo produtivo que utilizam, ou seja, produção em escala com elevada utilização de tecnologia de ponta.”
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Referência:
O desafio da qualificação. Goiás Industrial, Goiânia, Ascom, Setembro/Outubro, 2007.
Capa revista Set/Out, 2007 Revista Set/Out, 2007