1. 1879-09-16
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Os ciclos da borracha

A borracha foi um importante recurso que cooperou com a indústria e a economia no Brasil

História do Brasil

O ciclo da borracha no norte do Brasil, em especial na região amazônica, trouxe prosperidade e desenvolvimento para região, até então considerada isolada do resto do país. A borracha é um material de origem vegetal obtido do látex da seiva de uma árvore chamada Hevea brasiliensis. Esta árvore, nativa das florestas tropicais, é a nossa seringueira, encontrada na região amazônica. Essa riqueza natural ocasionou o surgimento de três grandes cidades: Belém, Manaus e Porto Velho. No início do século XIX houve uma procura pela borracha pelo mercado Europeu e Norte Americano. E nesse período havia pequenas fábricas localizadas na Ilha de Marajó, próximo a Belém produzindo galochas, sapatos, suspensórios e outros que eram bens de consumo norte americano. Geograficamente Belém estava em um ponto estratégico, afinal é muito mais próxima da Europa do que o Rio de Janeiro, e a influência de portugueses, franceses e ingleses eram grandes.Essa atividade extrativista chamada de heveicultura (cultivo de seringueiras) necessitava de muita mão-de-obra. Existiam os seringalistas, donos dos seringais que eram os “patrões” do negócio e os seringueiros, a maioria de classe pobre que dependiam do trabalho para sobreviver. Com a demanda elevada para extrair o látex, houve uma enorme migração de nordestinos fugindo da seca que assolou a região nordeste entre 1877 e 1879, estas pessoas ocuparam regiões ricas em seringueiras nas margens dos rios Juruá, Purus, Jaci-Paraná, Madeira, Guaporé e outros. Em 1903, o governo brasileiro negociou com o governo boliviano adquirindo assim o controle do Estado do Acre e da entrega de territórios do Mato Grosso e da construção de uma ferrovia para transporte da borracha.

A questão do território que hoje compõe o Estado do Acre levanta muitas polêmicas e controvérsias sobre o desprezo do território e anos depois a compra. Mas o que tem haver o Acre com a borracha? Boa parte do território acreano – senão toda – era formada por vastos seringais e ali moravam muitos brasileiros, inclusive os migrantes nordestinos. No reinado do Imperador D. Pedro II não foi dada uma atenção merecida para o Acre. Nesse período, oficiais do Governo estiveram visitando a área para entender a realidade do local e descobrir onde ficava a fronteira com a Bolívia. Automaticamente a área pertencia ao Brasil, considerando o princípio uti possidetis, que dá direito pertencer o território por quem de fato o ocupa. Em 14 de julho de 1899 foi fundado um novo país que inicialmente foi chamado de República Independente do Acre tendo como língua oficial o francês da diplomacia da época. A Argentina chegou reconhecer a legitimidade do Acre. A prematura República teve fim em 1900 quando navios de guerra brasileiros chegaram à região reintegrando a posse para a Bolívia. Houve confrontos militares após a notícia que os bolivianos, talvez fossem arrendar o Acre dando direitos aos americanos de usufruir dos bens naturais do território. Para resolver o problema Brasil e Bolívia fecharam um acordo que colocaria um fim nos problemas territoriais e diplomáticos entre os países, onde o Brasil se comprometeu pagar 2 milhões de libras esterlinas pelo Acre. Infelizmente esse pagamento foi em vão, pois o objetivo do governo brasileiro, além de fazer as pazes com o vizinho era de continuar a explorar a região, mas o problema é que seringais cresciam na Ásia, pelo fato de sementes que foram contrabandeadas pelo botânico inglês Henry Wickham em 1876. As colônias inglesas na Malásia e na África prosperavam com mais eficiência no extrativismo e obtendo um produto final mais barato gerando uma concorrência feroz, lembrando que a Amazônia mantinha o monopólio de produção da borracha. 

Após o fim do ciclo da borracha, muitos seringueiros não puderam voltar a sua terra natal, por não ter dinheiro ou estar em dívida com seringalistas. Muitos seringueiros foram obrigados a viver sob um regime servil de escravidão dos senhores da borracha para quitação de dívidas. Um sonho frustrado de ter lucros e riqueza. Claro que toda nova atividade econômica tem seus pontos positivos e negativos. O ponto positivo foi à criação e desenvolvimento de cidades, vilas e a exportação dessa matéria prima que estava bastante procurada pelas indústrias europeias. A borracha também proporcionou um giro de capital muito grande, destaque para o Reino Unido que comprava a matéria prima e pagava em libras esterlinas automaticamente influenciando a pauta de produtos brasileiros exportados. O ponto negativo foi a sua rápida decadência, exploração abusiva de mão-de-obra, doenças, mortes provocadas por ataques de onças, escorpiões e outros animais peçonhentos. Os coronéis da borracha queriam trazer os requintes europeus para as novas e crescentes cidades, principalmente Manaus. Belém (Pará) torna a quinta cidade do País no início do século XX, após Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo. Um período conhecido como Belle Époque trazia traços urbanísticos e características modernas rompendo os padrões coloniais, pois a elite que dominava o extrativismo do látex queria ter consigo um pouco de Europa para não perder o costume. A partir daí podia se ver prédios públicos com arquitetura clássica, ruas padronizadas, praças, lindos bulevares, museus, cinemas, rede de esgoto e eletricidade. Características que mostram até hoje esse período áureo que a região viveu. Fatos históricos mostra que houve fases diferentes da borracha.

O primeiro ciclo inicia na região central da Floresta Amazônica entre os anos de 1879 e 1912, tendo retorno por pouco tempo entre 1942 e 1945. A Revolução Industrial demandou muito dessa matéria prima, pois esta era (e ainda é) usada na fabricação pneus, correias, mangueiras e outros. Após uma visita do naturalista francês Charles Marie la Condamine descrevendo o processo de extração e fabricação da goma de látex, foi dada uma atenção comercial em favor da borracha tomando um rumo. A borracha tornou-se realidade no início do século XIX sendo fundada em Paris, na França, a primeira fábrica de produtos de borracha. O transporte dos produtos Amazônicos. Até então o transporte era feito via fluvial pelo rio Mamoré, mas que não era eficiente pelo fato de haver muitas cachoeiras. A estrada de ferro Madeira-Mamoré (apelidada “Ferrovia do Diabo”, pois houve muitas mortes no período de sua construção) foi à solução para o escoamento de todos os produtos extraídos da região Amazônica. Na década de 1930 a estrada de ferro entrou em decadência e desativada definitivamente em 1972.

O segundo ciclo da borracha no Brasil deu-se período da Segunda Guerra Mundial onde a demanda dessa matéria prima foi grande. Em 1941, o governo brasileiro fez um acordo com o governo norte americano para extração de látex na Amazônia atendendo assim os Estados Unidos que financiou esse processo. O acordo entre os governos Norte Americano e Brasileiro fomentou uma operação em larga escala de extração de látex na Amazônia - operação que ficou conhecida como a Batalha da Borracha. Nesse período a economia brasileira manteve-se estável em alguns momentos e mais ainda quando o conflito da Segunda Guerra Mundial se desenrolava. Não foi dada uma atenção especial para a borracha da Amazônia. Nesse período, o Governo estava focado na política cafeeira que estava crescente cada vez mais na região sudeste. Não houve nenhum plano de governos locais e federal para fomentar o desenvolvimento de um produto. Muitos seringueiros perderam a vida abandonados na floresta, pois estavam vulneráveis a doenças, carentes de saúde devido à má alimentação. Hoje, no Brasil, grande parte do cultivo de seringais vem de plantios comerciais. Atualmente abrange os estados do Pará, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Mato Grosso, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Paraná, Acre e Amazonas. Emprega inúmeras famílias que vivem dessa atividade e gera um lucro aproximado de R$ 346 milhões.

Texto: Valter Lopes - Historiador

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FONTES:
NARLOCH, Leandro - Guia politicamente incorreto da história do Brasil / Leandro Narloch ; São Paulo: Leya, 2011. 2ª ed. revista e ampliada.
Bueno, Eduardo. Produto nacional: uma história da indústria no Brasil / Eduardo Bueno. – Brasília: CNI, 2008. 240 p. : il
https://g1.globo.com/economia/agronegocios/agro-a-industria-riqueza-do-brasil/noticia/industria-brasileira-da-borracha-emprega-80-mil-pessoas.ghtml 
https://noamazonaseassim.com.br/tudo-sobre-o-ciclo-da-borracha-dos-primordios-ate-1920/ 
https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/ciclo-da-borracha 
https://www.todamateria.com.br/ciclos-economicos-do-brasil/ 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_da_borracha

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